A verdade sobre a verdade
Uma das decisões mais difíceis com a qual frequentemente temos de lidar em nossas vidas é a de decidir se devemos ou não dizer a verdade sobre determinado assunto. Tema aliás sobre o qual pouco se lê ou debate, já que culturalmente e, talvez de forma mais forte, religiosamente ouvimos que a verdade deve sempre ser dita, independente da situação que se apresenta.
Certa vez ouvi de um amigo que aquele que só fala a verdade não consegue se relacionar nem com seus pais. Forte, mas talvez verdadeiro (sem jogo de palavras). Michel Foucault, em seus estudos sobre a parresía - a atividade de falar de forma franca toda a verdade - nos alerta dos riscos assumidos por aquele que diz, mas também por aquele que aceita ouvir este tipo de discurso. Principalmente pelo fato de ser condição usualmente necessária para esta prática que se tenha um relacionamento próximo entre as partes, o que torna ainda maior o impacto de uma consequência negativa resultante da conversa.
Numa de minhas sessões de análise, ouvi de meu psicanalista que a verdade deve ser dita a quem a merece e a quem a suporta. Me pareceu sensata e sábia sua colocação. A quem a merece sempre, pois como descrito nos textos sagrados “não se joga pérolas aos porcos”. Verdades são pérolas. Porém também apenas a quem a suporta. Porque senão a verdade serve como um alívio de consciência para quem a diz, mas pode destruir a vida de quem a escuta. Não me parece algo a se fazer com quem se quer bem.
Nossa relação pessoal com a verdade costuma também oscilar durante as diversas fases de nossas vidas. Quando adolescentes, por exemplo, no auge da fase em que vivemos o arquétipo do herói, e acreditamos sermos capazes de mudar o mundo, somos capazes de dizer as verdades mais duras em relação à política, cultura e sociedade. Sem pesar riscos ou consequências. Mas é nesta mesma fase que bebemos escondido dos pais, pegamos as chaves do carro sem que percebam, e contamos qualquer estória que for preciso para conquistar a menina de nossos sonhos. Contraditório ou apenas característico?
De forma prática, o mais relevante me parece ser o entendimento de que mentir faz parte de nossa natureza. Animais também mentem. A etologia, ciência que estuda o comportamento dos animais, mostra que diversas espécies, no intuito de sobreviver ou reproduzir, mentem aos seus pares. Motivos semelhantes aos que nos fazem faltar com a verdade. Portanto não se culpem se em algum momento da vida agiram ou agirem desta forma. Trabalhem, porém, no sentido de levar uma vida cada vez mais harmônica, buscando o bem comum e o desenvolvimento pessoal, e isto fará com que suas atitudes sejam merecedoras e suportáveis de serem ouvidas e faladas. A verdade então naturalmente povoará seus dias e seus discursos. Mas nunca, nunca se culpem. Como Samuel Beckett, dramaturgo irlandês, nos ensinou “Errou, tente de novo, mas erre melhor dessa vez”. A vida é sempre daqui pra frente.
Um abraço
Eduardo Moreira
Uma das decisões mais difíceis com a qual frequentemente temos de lidar em nossas vidas é a de decidir se devemos ou não dizer a verdade sobre determinado assunto. Tema aliás sobre o qual pouco se lê ou debate, já que culturalmente e, talvez de forma mais forte, religiosamente ouvimos que a verdade deve sempre ser dita, independente da situação que se apresenta.
Certa vez ouvi de um amigo que aquele que só fala a verdade não consegue se relacionar nem com seus pais. Forte, mas talvez verdadeiro (sem jogo de palavras). Michel Foucault, em seus estudos sobre a parresía - a atividade de falar de forma franca toda a verdade - nos alerta dos riscos assumidos por aquele que diz, mas também por aquele que aceita ouvir este tipo de discurso. Principalmente pelo fato de ser condição usualmente necessária para esta prática que se tenha um relacionamento próximo entre as partes, o que torna ainda maior o impacto de uma consequência negativa resultante da conversa.
Numa de minhas sessões de análise, ouvi de meu psicanalista que a verdade deve ser dita a quem a merece e a quem a suporta. Me pareceu sensata e sábia sua colocação. A quem a merece sempre, pois como descrito nos textos sagrados “não se joga pérolas aos porcos”. Verdades são pérolas. Porém também apenas a quem a suporta. Porque senão a verdade serve como um alívio de consciência para quem a diz, mas pode destruir a vida de quem a escuta. Não me parece algo a se fazer com quem se quer bem.
Nossa relação pessoal com a verdade costuma também oscilar durante as diversas fases de nossas vidas. Quando adolescentes, por exemplo, no auge da fase em que vivemos o arquétipo do herói, e acreditamos sermos capazes de mudar o mundo, somos capazes de dizer as verdades mais duras em relação à política, cultura e sociedade. Sem pesar riscos ou consequências. Mas é nesta mesma fase que bebemos escondido dos pais, pegamos as chaves do carro sem que percebam, e contamos qualquer estória que for preciso para conquistar a menina de nossos sonhos. Contraditório ou apenas característico?
De forma prática, o mais relevante me parece ser o entendimento de que mentir faz parte de nossa natureza. Animais também mentem. A etologia, ciência que estuda o comportamento dos animais, mostra que diversas espécies, no intuito de sobreviver ou reproduzir, mentem aos seus pares. Motivos semelhantes aos que nos fazem faltar com a verdade. Portanto não se culpem se em algum momento da vida agiram ou agirem desta forma. Trabalhem, porém, no sentido de levar uma vida cada vez mais harmônica, buscando o bem comum e o desenvolvimento pessoal, e isto fará com que suas atitudes sejam merecedoras e suportáveis de serem ouvidas e faladas. A verdade então naturalmente povoará seus dias e seus discursos. Mas nunca, nunca se culpem. Como Samuel Beckett, dramaturgo irlandês, nos ensinou “Errou, tente de novo, mas erre melhor dessa vez”. A vida é sempre daqui pra frente.
Um abraço
Eduardo Moreira
Nenhum comentário:
Postar um comentário